sábado, 16 de novembro de 2013

Triste sorriso

Ele foi feliz, era um sorriso ambulante, nunca o viram triste, nunca o viram para baixo, nunca o viram, eis a verdade. Ele era triste, sustentava um sorriso forçado ao conversar com alguém, sempre tentava transparecer felicidade, sempre de cabeça erguida, sempre fingindo.
Cansou de sua mascara, mas ela enganava a todos, eles estavam acostumados, ninguém quer saber de pessoas tristes a sua volta, fingindo ele era aceito. Sorriu em frente ao espelho, disse em voz baixa "Você é especial", nunca ninguém tinha dito isso a ele sem usar de ironia, só o lembravam na hora de quebrar um galho, só quando precisavam de um favor. O bônus pelo trabalho, a gratificação e o reconhecimento sempre foram para outros, não que, muitas vezes, eles fizessem mesmo por merecer.
A noite, sozinho, chorava ao travesseiro, escrevia no velho diário manchado pelas lágrimas e se afogava em um café amargo. Queria cortar os pulsos, queria se enforcar, queria se atirar pela janela do último andar, queria mil coisas e não realizava nenhuma. Pôs-se então a reviver bons momentos na busca incessante de esquecer o quão amargurada e terrível sua vida era. Sorriu e assumiu que o melhor que tinha a fazer era continuar, sem parar, escondendo o 'eu verdadeiro', mostrando apenas o que todos queriam ver, o que todos queriam que ele fosse e assim foi.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Decepções de se amar um anjo

Olhos azuis, pele branca, cabelos dourados, ondulados, moldados ao vento. Sinto seu cheiro, seu perfume suave, sua voz firme, seu jeitinho de me enlouquecer sem esforço. Morde os lábios enquanto pensa, imaginasse no futuro, é tão inteligente, quero você hoje e sempre, seja minha.
Quando te vi a primeira vez quis ser seu amigo, queria me aproximar, mas tive medo, não sei, rejeitado quem sabe eu seria. Um dia nossos olhos se cruzaram sem querer te deixando vermelha, soltei um 'Oi' sem graça e fui bem correspondido, corei. Crescia meu ciclo de amizades, cada vez mais perto de ti, meu coração acelerava só com a possibilidade de lhe ter bem perto e como eu queria, ficava em êxtase ao te ver chegar. Certo dia a oportunidade surgiu, te vi conversando com uma amiga minha e a fui cumprimentar, você sorriu ao me ver e lhe dei um beijo no rosto ao sermos apresentados. O melhor dia da minha vida, agora te conheço oficialmente.


Como me sinto bobo amando assim, entretanto, gosto disso, o amor de antigamente, a enrolação para pegar na mão, para dar o primeiro beijo e afins. Sou de antigamente. A partir daquele momento, todo santo dia, lhe dei flores dizendo "Para a garota mais bela que já conheci", no começo senti sua estranheza, porém depois de algum tempo tu me presenteava com um sorriso belo e radiante.
Passei mal ao te ver com outro rapaz, dando a ele o sorriso que eu amava e os beijos que desejei. Praguejei, amaldiçoei aos céus e me perguntava sem parar o que ele tinha que eu não. Sofri. Sofri. Sofri, todavia, superei, porque apesar de tudo amar não é só tudo aquilo que eu tinha, aprendi que amar também é libertar, amar é deixar partir, amar é também, se valorizar. Te amei como pude, te deixei e hoje sou feliz.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Viver por viver

Acordou cedo como todos os dias, espreitou o sol pela persiana do quarto, acendeu um cigarro e teve o incontrolável desejo de tomar café, desceu então as escadas que rangiam a cada degrau. Na clara cozinha uma garrafa térmica vazia; Com gestos lentos deu um último trago antes da piteira, ligou uma boca do fogão, colocou a chaleira d'água sobre ela e acendeu mais um cigarro enquanto esperava.
Posto sobre o tapete da porta de entrada o seu jornal de domingo, folheou-o, só notícias ruins igual de costume, como diria seu pai "Se torcer sai sangue desse negócio", um leve sorriso lhe veio aos lábios ao lembrar seu 'velho'. Alguns minutos depois, chaleira apitou, interrompendo seus pensamentos. O sol sumiu, o tempo fechava aos poucos enquanto a água quente corria pelo coador. Sentou-se de frente a janela para apreciar a vida fora de sua casa. Tomava o café forte que acabara de fazer achando que nada de melhor podia acontecer em sua vida que se mostrava tão cinza, tão rasa e sem surpresas depois que sua esposa o deixou, disse ela que queria desafios e foi busca-los. Estava certa, não a culpava.
No fundo sentia vontade de fazer o mesmo, entretanto, deixou-se acomodar numa rotina de solidão que não lhe deixa imergir e respirar o ar da superfície. Desistiu da felicidade, desistiu do sentir, levava por levar, sorria por sorrir, beijava por beijar, amava sem amar. Triste história, triste ciclo, triste fim.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

O calculista que sabe amar

Acordei com vontade de escrever até ficar sem dedos hoje, porém esse negócio de trabalhar me impediu. Como de costume levantei bem em cima da hora do ônibus e me arrumei super correndo, o tempo estava frustrantemente chuvoso, principalmente quando desci no ponto e começou a tocar uma música bem triste no fone, cheguei a rir sozinho da situação. Já no serviço aquela mesmice de sempre, cobrança para lá e para cá, relatórios, e-mail's, muita conversa e risada com o povo que me diverte sempre.
Descobri que sou frio e calculista, não me via assim, mas perguntei para alguns amigos que responderam afirmativamente e lembrei que não me importo muito com isso (Isso é ser bem frio, diga-se de passagem). Me questionei sobre eu amar alguém, muitas vezes penso que sim e outras atesto com toda certeza que não, então estou em dúvida sobre mim, entretanto eu gosto de muita gente, por isso não sou assim tão mau como me descreveram, Entenderam? Pois é, nem eu.
Fiquei muito feliz ao pegar o ônibus voltando para casa e encontrar uma amiga minha que não trocávamos ideia a algum tempo, é ótimo rever as pessoas queridas, especialmente ela que eu tenho tantas histórias e sorrisos guardados na lembrança, amo demais... Esperem, eu disse que amo, acho que venci minha frieza, nossa.., estava me sentindo o vilão dos vilões sendo tachado de calculista, melhorei agora.


quinta-feira, 7 de março de 2013

Assim é a vida

Uma noite estrelada qualquer, me pus a caminhar, chamei seu nome e calei-me para não incomodar, prossegui andando, sentei-me na calçada fria, logo vejo sua imagem que veio me atender, pediu desculpas pela demora, apenas sorri. Você largou seu mundo para me fazer companhia, estava amando te sentir tão perto, seu perfume fazia meu coração bater depressa, era engraçado, era tudo o que precisava naquele momento.


Te olhava nos olhos, os mais belos olhos, te desejava ardentemente, o som de sua voz me deixava tremulo, segurei sua mão, pedi um abraço e fui atendido, tremi. Era tão estranho poder segurar entre os braços todo o meu mundo, segurar meu presente e futuro. Lhe sussurrei palavras doces, desta vez foi você quem sorriu, retribuiu meu olhar e disse: "Eu te amo", apesar de estarmos a tanto tempo juntos nunca tínhamos dito essas palavra um ao outro, mesmo com a maior certeza dos nossos sentimentos. Fiquei assustado, corei e sorri, senti seu ar de desapontamento mediante minha falta de resposta, desviou o olhar e em seguida a conversa, retomei-a então dizendo: "Hey, eu também te amo, e muito", sorrimos, nos abraçamos, nos beijamos, estava frio e uma garoa fria caia sobre nós.
Caminhamos de mãos dadas por um longo tempo, sem dizer nada, somente apreciando a companhia um do outro. A vida é engraçada, nascemos e morremos sozinhos, porém para sermos felizes necessitamos de outra pessoa que fique ao nosso lado e nos compreenda. Eis o mistério de se viver.

sábado, 2 de março de 2013

Vida vazia

Trinta e dois andares tinha o prédio em que ele morava, nunca tinha subido até o último deles, essa seria a primeira vez. Chegando lá se decepcionou, era completamente vazio, caminhou pelo nada, então parou mediante ao por do sol, sentou-se a beirada do prédio e pôs-se a pensar na vida. Concluiu que aos quarenta e dois anos de idade, não tinha emprego, não tinha família e muito menos amigos, as únicas pessoas que lhe dirigiam a palavra eram o porteiro e seu vizinho, que pelo número de vezes que batia a sua porta parecia que nunca tinha açúcar. Nunca teve um gato, um cachorro, um pássaro ou até mesmo um peixinho no aquário, não tinha tempo para outra coisa que não fosse seu antigo trabalho.
Começou a trabalhar com dezoito anos, subiu de cargo cinco vezes, trabalhava oito horas e dedicava o tempo em casa a ler sobre seu emprego, se afastou dos amigos, perdeu seus entes queridos e não constituiu uma família, era totalmente sozinho e arrogante, tratava seus empregados e os demais com frieza e antipatia, mesmo assim se achava muito competente, até que seu chefe o demitiu, encontrou alguém muito mais jovem e cheio de vida para o cargo. Ele então se deprimiu, nos últimos dias as únicas coisas que tinha feito era ficar em casa, lendo o jornal e tomando café, até ter um desmaio no corredor, enquanto pegava a correspondência, no pronto atendimento ele ouvia as frases "é muito grave?", "ele tem chances?" e a que mais lhe assustava era "ele vai morrer?". Não sabia distinguir de quem era a voz, mas sabia que era dele que falavam, não entendia ao certo toda a conversa, mas se preocupava com os pequenos pedaços que ouvia. Ao acordar o médico lhe trouxe a má notícia, estava com leucemia, ficou horrorizado, chocado e sem voz, quando caiu a noite vestiu seu casaco e fugiu de volta para casa, dormiu até depois do horário do almoço, quando despertou pensava que tudo era um pesadelo, colocou-se a auto beliscar-se tentando, desesperadamente, acordar, nada aconteceu. Tentando por fim se alegrar subiu ao último andar de seu prédio coisa que nunca fizera antes, olhou o nada, viu o por do sol, pensou na vida, outra vez se deprimiu e então tomou uma decisão, acabaria com tudo, pularia lá de cima. Pensou não ter coragem, pensou em algo que fizesse-lo mudar de ideia, nada lhe veio a mente. Contaria até três e se jogaria e o fez, enquanto caia sentia o vento suave tocar seu corpo e sua vida toda passou diante dos seus olhos, fechou-os então, abraçando a morte como uma velha amiga.


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Bem-vindo ao meu pesadelo

Rezo toda noite para que a vida tome um novo rumo, para que as coisas mudem, mas ao levantar da cama entro em clima de rotina, é praticamente um deja-vu que me entristece. O café amargo, o almoço sem vida, o rosto pálido no espelho, me assusto ao ver como minha vida decaiu, não acho mais o sorriso que a tanto sustentava, este se foi, se perdeu numa esquina qualquer, volta e meia faz uma visita rápida e depois some.
Quando penso que nada pior pode acontecer, o mundo desaba, o céu se fecha. As noites são sempre frias, solitárias e chuvosas por mais quentes e áridas que aos outros elas pareçam. Deito para dormir e o mesmo pesadelo me persegue, acordo banhado em suor, a rotina se inicia, o café amargo, o rosto pálido, o almoço sem vida, a música triste que toca no silêncio do meu quarto. Tento achar motivos para não por fim a própria vida, nada me vem nada a cabeça. Respiro fundo, corto os pulsos em pensamento, fumo um cigarro imaginário e vou outra vez rumo ao trabalho.
Vejo rostos sorridentes a minha volta, o que parece me deixar ainda mais infeliz, por que não sou como os outros? Por que não sorrio mais sem motivo? Lembro que já fui assim e me perdi, é difícil explicar. Pela janela do ônibus vejo a vida passar, um mundo cinza e sem alegria, iluminado por fracas lampadas em postes envelhecidos pela chuva. É a vida que se esvai pelos dedos, sem rumo e sem motivo de existir, imensurável quantidade de lágrimas lavam meu rosto, pego no sono e o pesadelo recomeça.