terça-feira, 3 de setembro de 2013

Viver por viver

Acordou cedo como todos os dias, espreitou o sol pela persiana do quarto, acendeu um cigarro e teve o incontrolável desejo de tomar café, desceu então as escadas que rangiam a cada degrau. Na clara cozinha uma garrafa térmica vazia; Com gestos lentos deu um último trago antes da piteira, ligou uma boca do fogão, colocou a chaleira d'água sobre ela e acendeu mais um cigarro enquanto esperava.
Posto sobre o tapete da porta de entrada o seu jornal de domingo, folheou-o, só notícias ruins igual de costume, como diria seu pai "Se torcer sai sangue desse negócio", um leve sorriso lhe veio aos lábios ao lembrar seu 'velho'. Alguns minutos depois, chaleira apitou, interrompendo seus pensamentos. O sol sumiu, o tempo fechava aos poucos enquanto a água quente corria pelo coador. Sentou-se de frente a janela para apreciar a vida fora de sua casa. Tomava o café forte que acabara de fazer achando que nada de melhor podia acontecer em sua vida que se mostrava tão cinza, tão rasa e sem surpresas depois que sua esposa o deixou, disse ela que queria desafios e foi busca-los. Estava certa, não a culpava.
No fundo sentia vontade de fazer o mesmo, entretanto, deixou-se acomodar numa rotina de solidão que não lhe deixa imergir e respirar o ar da superfície. Desistiu da felicidade, desistiu do sentir, levava por levar, sorria por sorrir, beijava por beijar, amava sem amar. Triste história, triste ciclo, triste fim.