sábado, 2 de março de 2013

Vida vazia

Trinta e dois andares tinha o prédio em que ele morava, nunca tinha subido até o último deles, essa seria a primeira vez. Chegando lá se decepcionou, era completamente vazio, caminhou pelo nada, então parou mediante ao por do sol, sentou-se a beirada do prédio e pôs-se a pensar na vida. Concluiu que aos quarenta e dois anos de idade, não tinha emprego, não tinha família e muito menos amigos, as únicas pessoas que lhe dirigiam a palavra eram o porteiro e seu vizinho, que pelo número de vezes que batia a sua porta parecia que nunca tinha açúcar. Nunca teve um gato, um cachorro, um pássaro ou até mesmo um peixinho no aquário, não tinha tempo para outra coisa que não fosse seu antigo trabalho.
Começou a trabalhar com dezoito anos, subiu de cargo cinco vezes, trabalhava oito horas e dedicava o tempo em casa a ler sobre seu emprego, se afastou dos amigos, perdeu seus entes queridos e não constituiu uma família, era totalmente sozinho e arrogante, tratava seus empregados e os demais com frieza e antipatia, mesmo assim se achava muito competente, até que seu chefe o demitiu, encontrou alguém muito mais jovem e cheio de vida para o cargo. Ele então se deprimiu, nos últimos dias as únicas coisas que tinha feito era ficar em casa, lendo o jornal e tomando café, até ter um desmaio no corredor, enquanto pegava a correspondência, no pronto atendimento ele ouvia as frases "é muito grave?", "ele tem chances?" e a que mais lhe assustava era "ele vai morrer?". Não sabia distinguir de quem era a voz, mas sabia que era dele que falavam, não entendia ao certo toda a conversa, mas se preocupava com os pequenos pedaços que ouvia. Ao acordar o médico lhe trouxe a má notícia, estava com leucemia, ficou horrorizado, chocado e sem voz, quando caiu a noite vestiu seu casaco e fugiu de volta para casa, dormiu até depois do horário do almoço, quando despertou pensava que tudo era um pesadelo, colocou-se a auto beliscar-se tentando, desesperadamente, acordar, nada aconteceu. Tentando por fim se alegrar subiu ao último andar de seu prédio coisa que nunca fizera antes, olhou o nada, viu o por do sol, pensou na vida, outra vez se deprimiu e então tomou uma decisão, acabaria com tudo, pularia lá de cima. Pensou não ter coragem, pensou em algo que fizesse-lo mudar de ideia, nada lhe veio a mente. Contaria até três e se jogaria e o fez, enquanto caia sentia o vento suave tocar seu corpo e sua vida toda passou diante dos seus olhos, fechou-os então, abraçando a morte como uma velha amiga.